EXCESSO DE ADVÉRBIOS:
Evite o uso excessivo de advérbios, em especial os advérbios terminados em mente que, são em geral, os advérbios de modo: calmamente, tranquilamente, alegremente… Mas também podem ser de afirmação: certamente, realmente… de tempo: imediatamente, diariamente… de dúvida: provavelmente, possivelmente, eventualmente… de intensidade: excessivamente, intensamente, demasiadamente…
Os advérbios são utilizados para caracterizar os verbos ou intensificar o sentido de adjetivos ou outros advérbios, eles ajudam o leitor a visualizar com mais clareza o que acontece na história, porém devem ser usados com moderação. O excesso desses complementos podem estragar a riqueza do conteúdo e tornar a leitura cansativa.
Stephen King no seu livro “Sobre a Escrita” enfatizou várias vezes que "os advérbios não são seus amigos" e que "a estrada para o inferno é pavimentada com advérbios".
Usando os advérbios em excesso, o escritor demonstra que tem medo de não conseguir passar sua mensagem e expressar com clareza. Vamos considerar a frase “Ele fechou a porta firmemente”.
Não é uma frase de todo ruim, mas será que o “firmemente” precisava mesmo estar ali? O “firmemente” está expressando o modo como a porta foi fechada, mas se o autor conseguir dentro da sua narrativa esclarecer o que está se passando naquela cena, o que veio antes desse fechar a porta, o contexto em que a frase está inserida, talvez dizer que a porta foi fechada firmemente se torne redundante ou desnecessário.
ADJETIVAÇÃO FÁCIL:
Evite inchar suas descrições com adjetivos. Um bom escritor deve criar as imagens, mostrar e não contar (o famoso show, don’t tell).
O ideal é encenar (colocar em cenas) e não falar explicitamente.
Ex: um personagem lindo e muito desejado pelas mulheres, fazer uma cena onde ele chega e todas as mulheres param para olhar e não falar de forma explícita que ele era “lindo e desejado”.
É de suma importância caracterizar as personagens através de seus atos e falas. Ex: um cara babaca, não basta falar que ele é babaca, tem que fazer ele agir e falar como um.
PANFLETARISMO OU LIÇÃO DE MORAL:
LITERATURA NÃO É PARA CONVENCER OS OUTROS DOS SEUS ARGUMENTOS E IDEIAS PESSOAIS, LITERATURA É ARTE!
A função do texto literário é estética, poética, sua linguagem deve ser expressiva e subjetiva, é um texto conotativo, que usa o sentido figurado. Não é pra ser denotativo, utilitário, para convencer, informar ou explicar as coisas.
TCHEKOV em seu livro “Sem trama, sem final” também diz que escrever não é passar sermão. Ao representar ladrões de cavalos, todo mundo sabe que roubar é um mal, a função não é julgá-los. (deixem isso para os jurados), a minha função é apenas mostrar como eles são.
No livro “O último leitor” de David Toscana, o personagem Lucio trabalha numa biblioteca e fica decidindo quais livros vão para a prateleira e quais vão para o lixo. Logo nas pgs 11 e 12 ele faz sua primeira crítica ao romance fictício intitulado: "As cores do Céu" de Brian MacAllister
(...) " Sabe o que o espera, traste dos infernos? O negro negou com a cabeça embora sua expressão de horror revelasse que sabia muito bem o que o esperava. Os dois o levaram à barreira e o fizeram ver com terror as águas que Murdoch acabava de observar com prazer. O negro parou de lutar. Preferia acabar com tudo de uma vez por todas a continuar aguentando a humilhação de ser arrastado como um cachorro, desviando-se das fezes dos cavalos, ouvindo conversas de bêbados. Você quer dizer alguma coisa antes de enfrentar seu destino?, perguntou Murdoch. O negro disse que sim e, tentando fazer com que sua voz não tremesse, falou: Há um Deus que não diferencia as cores da pele, que ama igualmente negros e brancos... Lucio bufa e fecha abruptamente o livro. Duzentas páginas para que esse negro venha dar lição de moral feito uma freira."
É imprescindível diferenciar o autor pessoa (aquele que organiza esteticamente a obra) do autor narrador (um sujeito social, com seus valores e sua realidade). Ter isso em mente nos ajuda a evitar a tendência a explicar demais a história e os personagens (um bom autor precisa confiar na inteligência do seu leitor!).
Por fim, lembrem-se: a arte é provocativa, é rebelde, é revolucionária e muitas vezes causa estranhamento, nos faz refletir!
LIVROS CITADOS:
Anton Tchekov - Sem trama, sem final
Stephen King - Sobre a escrita
David Toscana - O último leitor
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