Publicado pela Kafka edições, 14 corpos
de João e Maria é o primeiro livro do professor e escritor João Paulo Partala, nascido em Curitiba, mas atual morador de Colombo (região metropolitana). O livro faz parte da coleção geração PR10 (6
novos autores da literatura paranaense e brasileira).
Partala foi meu colega em
diversas oficinas de criação literária promovidas pela Fundação Cultural de
Curitiba no início da década de 2010 e de lá pra cá refinou ainda mais sua
escrita, que já era excelente, construindo um livro de estreia impactante.
O
livro fala de morte. E não há nenhum romantismo acerca disso. Partala nos traz a
realidade nua e crua, aquela verdade cruel que muitas vezes viramos o rosto pra
não enxergar. São 14 contos que versam sobre as mortes banalizadas e
naturalizadas de Marias e Joãos que representam os indivíduos invisíveis na
nossa sociedade, aqueles que só são lembrados em época de eleição, que vivem uma
vida inteira de exclusão social e na morte prosseguem com a mesma invisibilidade
que tiveram na vida.
"Janjão olha. A fusão Iguaçu sobe depressa sem que haja
resistência alguma. Um desses carros novos, financiados em sessenta vezes com
altas taxas, para próximo à cabeceira da ponte onde está Janjão. 'Olha, filho...
Quanta água! Parece que vai levar aquele barraco... Levou! Olha ali, ó... Um
piazinho numa tábua, se fosse você surfava, né?' E ria. Ao perceber o homem ali
parado, começou a falar mais baixo, entrou no carro e saiu devagar, ainda rindo
do piazinho, que além de tudo vestia-se muito mal, com uma camiseta de vereador
da eleição passada. Muito fora de moda." (Conto: Mar de Acrópole)
O livro é
marcado por uma forte crítica social, retratando o cotidiano de sujeitos
engolidos por um sistema capitalista que promove gigantescas desigualdades
sociais, colocando um abismo mesmo entre aqueles que param com seu carro
(financiado em 60 vezes) para mostrar, entre risos, a enchente levando os
barracos ao filho e aqueles que perderam tudo, inclusive a vida, numa enchente.
A existência desses Joãos e Marias, que usam boné e camiseta do candidato a
vereador não tem valor, a menos que seja época de eleição.
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