26 julho 2020

29º Letra de Mulher



Roda de conversa sobre autoria de mulheres com mediação do Coletivo Marianas. 
O 29° encontro acontece em ambiente virtual e a página do evento estará aberta, entre 18 e 21 horas, para compartilhamento de vídeos e postagens com leituras de textos (poesia e prosa) produzidos por mulheres. 
Entre 19 e 20 horas será aberta uma sala, via Google Meet, para participação ao vivo, que poderá ser acessada pelo link https://meet.google.com/dpy-ycmn-aro.

Envie seu vídeo e/ou participe da sala!

Confira como foi o evento:


20 julho 2020

DICAS PARA ESCRITORES: FUJA DESSES 3 VÍCIOS!


ATENÇÃO AOS VÍCIOS APONTADOS ABAIXO,
ATÉ MESMO AUTORES EXPERIENTES COMETEM ESSES ERROS,
QUE PODEM FAZER O LEITOR ABANDONAR O SEU LIVRO.


  1. EXCESSO DE ADVÉRBIOS: 


Evite o uso excessivo de advérbios, em especial os advérbios terminados em mente que, são em geral, os advérbios de modo: calmamente, tranquilamente, alegremente… Mas também podem ser de afirmação: certamente, realmente… de tempo: imediatamente, diariamente… de dúvida: provavelmente, possivelmente, eventualmente… de intensidade: excessivamente, intensamente, demasiadamente… 

Os advérbios são utilizados para caracterizar os verbos ou intensificar o sentido de adjetivos ou outros advérbios, eles ajudam o leitor a visualizar com mais clareza o que acontece na história, porém devem ser usados com moderação. O excesso desses complementos podem estragar a riqueza do conteúdo e tornar a leitura cansativa. 

Stephen King no seu livro “Sobre a Escrita” enfatizou várias vezes que "os advérbios não são seus amigos" e que  "a estrada para o inferno é pavimentada com advérbios".

Usando os advérbios em excesso, o escritor demonstra que tem medo de não conseguir passar sua mensagem e expressar com clareza. Vamos considerar a frase “Ele fechou a porta firmemente”.

Não é uma frase de todo ruim, mas será que o “firmemente” precisava mesmo estar ali? O “firmemente” está expressando o modo como a porta foi fechada, mas se o autor conseguir dentro da sua narrativa esclarecer o que está se passando naquela cena, o que veio antes desse fechar a porta, o contexto em que a frase está inserida, talvez dizer que a porta foi fechada firmemente se torne redundante ou desnecessário.


  1. ADJETIVAÇÃO FÁCIL: 

Evite inchar suas descrições com adjetivos. Um bom escritor deve criar as imagens, mostrar e não contar (o famoso show, don’t tell).

O ideal é encenar (colocar em cenas) e não falar explicitamente.

Ex: um personagem lindo e muito desejado pelas mulheres, fazer uma cena onde ele chega e todas as mulheres param para olhar e não falar de forma explícita que ele era “lindo e desejado”.

É de suma importância caracterizar as personagens através de seus atos e falas. Ex: um cara babaca, não basta falar que ele é babaca, tem que fazer ele agir e falar como um. 


  1. PANFLETARISMO OU LIÇÃO DE MORAL: 


LITERATURA NÃO É PARA CONVENCER OS OUTROS DOS SEUS ARGUMENTOS E IDEIAS PESSOAIS, LITERATURA É ARTE!

 

A função do texto literário é estética, poética, sua linguagem deve ser expressiva e subjetiva, é um texto conotativo, que usa o sentido figurado. Não é pra ser denotativo, utilitário, para convencer, informar ou explicar as coisas.  

TCHEKOV em seu livro “Sem trama, sem final” também diz que escrever não é passar sermão. Ao representar ladrões de cavalos, todo mundo sabe que roubar é um mal, a função não é julgá-los. (deixem isso para os jurados), a minha função é apenas mostrar como eles são.

No livro “O último leitor” de David Toscana, o personagem Lucio trabalha numa biblioteca e fica decidindo quais livros vão para a prateleira e quais vão para o lixo. Logo nas pgs 11 e 12 ele faz sua primeira crítica ao romance fictício intitulado: "As cores do Céu" de Brian MacAllister

 

(...) " Sabe o que o espera, traste dos infernos? O negro negou com a cabeça embora sua expressão de horror revelasse que sabia muito bem o que o esperava. Os dois o levaram à barreira e o fizeram ver com terror as águas que Murdoch acabava de observar com prazer. O negro parou de lutar. Preferia acabar com tudo de uma vez por todas a continuar aguentando a humilhação de ser arrastado como um cachorro, desviando-se das fezes dos cavalos, ouvindo conversas de bêbados. Você quer dizer alguma coisa antes de enfrentar seu destino?, perguntou Murdoch. O negro disse que sim e, tentando fazer com que sua voz não tremesse, falou: Há um Deus que não diferencia as cores da pele, que ama igualmente negros e brancos... Lucio bufa e fecha abruptamente o livro. Duzentas páginas para que esse negro venha dar lição de moral feito uma freira."

 

É imprescindível diferenciar o autor pessoa (aquele que organiza esteticamente a obra) do autor narrador (um sujeito social, com seus valores e sua realidade). Ter isso em mente nos ajuda a evitar a tendência a explicar demais a história e os personagens (um bom autor precisa confiar na inteligência do seu leitor!).

Por fim, lembrem-se: a arte é provocativa, é rebelde, é revolucionária e muitas vezes causa estranhamento, nos faz refletir!

 

LIVROS CITADOS:

 

Anton Tchekov - Sem trama, sem final

Stephen King - Sobre a escrita

David Toscana - O último leitor 


13 julho 2020

Hélio Leites - um artista das palavras



Hélio Leites é artista plástico, poeta, performer, contador de histórias, arte-educador e um sujeito muito simpático! Conheci o Hélio em 2016 numa fe
ira literária em Arapoti na qual participamos juntos (eu estava gravidíssima!) e também já tive o privilégio de visitar sua barraca na Feirinha do Largo da Ordem aos domingos. Ele sempre tem uma boa história para contar e nos encantar com suas artes.



TARJA BRANCA - O LIBRETO QUE FALTAVA (CRÔNICAS) é seu primeiro livro e foi publicado pela Editora Prosa Nova em 2017. O livro  faz parte da Coleção por um mundo menor (por uma estética do mínimo, porém grandes na essência). 


“Tarja Branca é o remédio do futuro.

No futuro o remédio não vai entrar pela boca,

vai entrar pela orelha, é a palavra vestida de histórias,

curando aqueles que não se acreditam doentes". 



Alguns temas tratados no livro são: a vida cotidiana, a natureza, a religiosidade simples, a velhice e a arte. O livro é dividido em quatro partes: 


- Sobre a arte e o ofício da escrita (introduz a filosofia da tarja branca)

- Lembranças e Memórias (aborda questões sociais como a castração de animais e a desigualdade social)

- Religiosidade, ética e vida (traz personagens da cena curitibana como a "Santa" Helena Kolody e Efigênia Rolim, a Rainha de Papel de Bala).

- Encantos da vida e natureza (muitas flores, passarinhos, frutas e coisas belas para encher nosso olhar de encantamento)


"Onzimo mandamento: suportai-vos uns aos outros"


O estilo de escrita é permeado pela simplicidade e sabedoria franciscana,  pela espiritualidade dos santos sempre em harmonia com a natureza. Assim como para Espinosa ou Alberto Caeiro, para Hélio, Deus está em tudo, nas flores, nos passarinhos, nos rios.
O autor também traz originalidade com a criação de neologismos (pazciência, deuslicadeuza, artesanartes, etc).
O humor é o toque de mestre que Hélio usa para lidar com questões complexas como o autoconhecimento e a aceitação da (dura) realidade de que precisamos ser os protagonistas de nossa própria história. 
Enfim, um livro delicado e profundo, que vale a pena ser experienciado com tranquilidade.

Vídeo completo com leitura de algumas crônicas do Hélio: