06 setembro 2020

EDUARDO GALENO - O LIVRO DOS ABRAÇOS


“Um conto toca um ponto

de alguém que precisa urgentemente 

de uma palavra materializada” 

(Everton Marcos Grison)


Estou insuportável, confesso. Nem eu mesma me suporto ultimamente. Nada me agrada. Nem as coisas que costumavam me agradar. 

Ando desanimada com o mundo. É tanta violência, corrupção, impunidade. Estamos indo a passos largos para nossa própria destruição e parece que ninguém vê. Se vê, está cansado demais de nadar contra a corrente. Ou é andorinha solitária, que não pode fazer verão.

Em meio a uma pandemia, o que prevalece é o egoísmo. O bem estar pessoal antes do bem estar coletivo. Dane-se você, vou fazer o que eu quiser. Isso é defender a liberdade? Pode haver esperança - não pra nós, já dizia Kafka.

As veias abertas da América Latina sangram como nunca. Mas não só elas. O mundo inteiro vem sendo dilacerado dia após dia.

Salva-me, como sempre, a arte. E um bom conselho do marido: “Você precisa de um abraço, leia o Galeno.”

Na mosca! Saiu um sorriso só de lembrar desse livro, que me aquece o coração.

Eduardo Galeano (1940-2015), foi um escritor uruguaio que conseguiu com uma precisão cirúrgica e uma beleza indescritível trazer em seus livros as memórias de um povo, torná-las vivas e eternas, como devem ser. 


“Recordar: Do latim re-cordis, tornar a passar pelo coração.”


A função da arte/1


Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.

Viajaram para o Sul.

Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.

Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.

E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:

- Me ajuda a olhar!”


(Trechos de: O Livro dos Abraços, de Eduardo Galeano)


        Galeano, com sua arte, me trouxe um sopro de vida. Um oásis onde repousar a alma.

       Em tempos de desesperança, não preciso de ilusões, muito menos do grito da desgraça. Tenho necessidade vital do silêncio da beleza.


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