29 fevereiro 2012

ESCREVER


Um trecho sobre a escrita, do belíssimo livro "O dia de Ângelo" do Frei Betto para vocês apreciarem:

"Escreve-se assim: toma-se um punhado de palavras que escorrem céleres por veias, artérias, músculos e mãos, derramando-se entre dedos; esparramando-as sobre folhas brancas, dispondo-as ordenadamente, de forma que traduzam ideias, sentimentos, emoções, recordações, visões e propósitos. Respeite a respiração das palavras, isso que a gramática chama de pontuação. Deixe que elas descansem ao fim de um conceito, recobrem forças antes de iniciar nova frase, estejam cadenciadas por vírgulas e pontos nas orações. Não exija delas fôlego maior do que possuem e saiba que encerram curioso mistério, pois as mesmas palavras que servem  para registrar o mais insípido documento de cartório prestam-se igualmente para compor as mais belas obras literárias."

Um comentário:

Everton Marcos Grison disse...

Bela postagem. Um livro lindo, Frei Betto sempre tem algo a ensinar. Especificamente este trecho me faz lembrar de uma passagem de F. Nietzsche. Claro que não quero comparar dois autores incomparáveis, mas em; Assim Falou Zaratustra Nietzsche proclama: "De tudo o que se escreve, aprecio somente o que alguém escreve com seu próprio sangue". (Do ler e do escrever In: NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra. Tradução de Mário da Silva. São Paulo: Círculo do livro, S/D, p. 56). Então vamos escrever com sangue, vamos dar valor a isso chamado palavra (escrita), coisa que cria e destrói mundos.