19 março 2010

RILKE, CARTAS A UM JOVEM POETA

Rainer Maria Rilke (1875-1926) foi um grande poeta nascido em Praga, sendo um dos autores alemães mais conhecidos no Brasil e tendo influenciado muitas gerações de poetas. Teve excelentes traduções de seus textos feitos por alguns dos maiores nomes da poesia brasileira, entre eles, Manuel Bandeira (Torso Arcaico de Apolo) e Cecília Meireles (A Canção de Amor e de Morte do Porta-Estandarte Cristovão Rilke).

No livro, Cartas a um jovem poeta, destinadas originalmente à Franz Xaver Kappus, Rilke mostra toda sua genialidade dando conselhos ao jovem que aspirava ser poeta.

São dez cartas abordando temas como a crítica, necessidade de criar, auto-conhecimento, solidão, amor, paciência, pobreza, sexo, amadurecimento, arte, etc.

Hoje falarei da primeira carta, escrita em Paris no dia 17 de fevereiro de 1903, onde Rilke fala sobre a crítica e o auto-conhecimento.

"(...)Não posso entrar em considerações sobre a forma dos seus versos; pois me afasto de qualquer intenção crítica. Não há nada que toque menos uma obra de arte do que as palavras de crítica: elas não passam de mal entendidos mais ou menos afortunados. As coisas em geral não são tão fáceis de apreender e dizer como normalmente nos querem levar a acreditar; a maioria dos acontecimentos é indizível, realiza-se em um espaço que nunca uma palavra penetrou, e mais indizíveis do que todos os acontecimentos são as obras de arte, existências misteriosas , cuja vida perdura ao lado da nossa, que passa.

(...)

O senhor me pergunta se os seus versos são bons. Pergunta isso a mim. Já perguntou a mesma coisa a outras pessoas antes. Envia os seus versos para revistas. Faz comparações entre eles e outros poemas e se inquieta quando um ou outro redator recusa suas tentativas de publicação. Agora (como me deu licença de aconselhá-lo) lhe peço para desistir de tudo isso. O senhor olha para fora, e é isso sobretudo que não deveria fazer agora. Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há apenas uma meio. Volte-se para si mesmo.

(...)

E se, desse ato de se voltar para dentro de si, desse aprofundamento em seu próprio mundo, resultarem versos, o senhor não pensará em perguntar a alguém se são bons versos. Também não tentará despertar o interesse de revistas por tais trabalhos, pois verá neles seu querido patrimônio natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando surge de uma necessidade. É no modo como ela se origina que se encontra o seu valor, não há nenhum outro critério."

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