20 agosto 2020

Resenha: A morte é um dia que vale a pena viver - Ana Claudia Quintana Arantes

 A morte é um dia que vale a pena viver 

E um excelente motivo para se buscar um novo olhar para a vida. 


Ana Claudia Quintana Arantes - Médica formada pela USP, com residência em geriatria e gerontologia, sócia-fundadora da Associação Casa do Cuidar.


“Eu cuido das pessoas que morrem”


O livro é classificado como sobre morte, perdas, aspectos psicológicos, mas é um livro singelo, de fácil leitura e compreensão, não é cheio de termos técnicos, é bastante leve e poético. 

São reflexões da autora que conta quem ela é, porque ela faz o que faz, cuidados paliativos, empatia, medo da morte, medo da vida, a contemplação da morte, etc. 

Gostei dos excertos de texto ou música que iniciam os capítulos, deixou bem poético e reflexivo (Manoel de Barros, Clarice Linspector, Lenine). 

O livro começa com a autora contando que sua avó tinha uma doença grave e recebia as visitas do médico em casa. Ela, enquanto criança, vendo aquele tratamento gentil do médico com sua avó decide ser médica, porém no 4º ano para a faculdade (em crise por ver o sofrimento das pessoas, sua morte sem um cuidado especial) ela larga os estudos para voltar só depois de 2 anos.

Ela não se conforma com o “não há nada o que fazer” e faz uma crítica ao dizer que os médicos aprendem sobre doenças, remédios, tratamentos, diágnóstico-solução, mas não aprendem sobre a morte e muito menos sobre a vida.


“Cuidamos de tantas pessoas e às vezes esquecemos que nós também precisamos de cuidados. Temos que lembrar que por trás do CRM tem um coração que também sofre por muitas vezes não saber lidar nem com a morte e nem com a vida, porque a faculdade só ensina sobre doença, vivemos na base do problema-diagnóstico-solução e isso nos deixa muito limitados em outras áreas” 


A morte ainda é um tabu para muitos e neste livro Ana Claudia compartilha o aprendizado que tem com seu trabalho como médica e como ser humano que cuida de outros seres humanos.


“A morte é uma ponte para a vida” (p. 14)


Considerações sobre o tempo:


“É só pela consciência da morte que nos apressamos em construir esse ser que deveríamos ser”


“As pessoas acham bonito dizer que não teve tempo de comer, de dormir, de viver!”


Primeiro arrependimento das pessoas que tem consciência que em breve vão morrer:

 

“ Eu gostaria de ter priorizado as minhas escolhas em vez de ter feito escolhas para agradar os outros” (p. 129)


Outro arrependimento: 


“Eu deveria ter feito de mim mesmo uma pessoa mais feliz”


“Ninguém pode nos fazer infelizes, apenas nós mesmos” 

(São João Crisóstemo)


Gostei muito do livro, de suas reflexões tão importantes e pertinentes e da maneira como isso foi contado, com amor, verdade e poesia.


Abaixo o vídeo que fiz para o Canal Senhora Literatura falando do livro:




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